sábado, 7 de junho de 2014




DESENHO NAS ESTRELAS




Meu olhar, já não procura.
Não por acaso, é premeditado.
Já que são poucas as escolhas,
se não olho, não vejo,
se não vejo não sinto.
Já me basta a voz perturbadora,
e o contexto, além do texto,
além da intenção de deixar claro,
a falta do desejo ou de qualquer intento.
Sobra-me o firmamento,
a noite escura, o céu pontilhado,
sem figura.
E mesmo assim, meu maldito e criativo olhar
liga pontos, promove curvas,
sublinha o queixo, nariz, olhos,
orelhas, cabelos,
e na negritude da noite alta,
vem o brilho da lua,
sobre a figura decalcada, que tem
intenção de um rosto, teu rosto,
tua imagem.
Ali, estou segura, é apenas uma figura,
não há alma, não há troca.
O desejo não aflora.
Fico ali, parada, na esperança,
que a figura desça dos céus,
se torne carne, se torne gente,
se torne sentimento,
como o meu.

Valentina Fraga

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